terça-feira, 29 de março de 2011

DOUTRINAS DAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ




"O modo de sentir do povo é simples e elementar. O esquema de interpretação do mundo só tem dois pólos: positivo e negativo, bem ou mal. As massas têm uma inteligência modesta. A propaganda deve basear-se em pouquíssimos pontos, repetidos incessantemente."
Adolf Hitler

"É um assunto sério representar a Deus e Cristo de um modo, e então descobrir que nosso entendimento dos principais ensinos e doutrinas fundamentais estavam em erro, e depois disso, retornar às mesmas doutrinas que, por anos de estudo, havíamos demonstrado amplamente estarem em erro. Os cristãos não podem estar vacilando - 'indo e vindo' - em tais ensinos fundamentais. Que confiança pode-se ter na sinceridade ou julgamento de tais pessoas?"
                                                         Revista  A Sentinela de 15 de Maio de 1976

"Qual deve ser sua reação se lhe apresentarem prova de que aquilo em que você crê é errado?"
Livro "Poderá Viver para Sempre...", p. 32

"Uma religião que ensina mentiras não pode ser verdadeira."
Revista  A Sentinela de 1 de Dezembro de 1991, p. 7

"Para se chegar à verdade, devemos despojar nossa mente e coração de preconceitos religiosos. Devemos deixar que Deus fale por si mesmo. Qualquer outra conduta só levaria a mais confusão."
Livro "Seja Deus Verdadeiro", p. 8


     O Dicionário da Língua Portuguesa de Celso P. Luft (Editora Scipione) define a palavra "doutrina" como significando: a) Conjunto de princípios norteadores de religião, filosofia, política etc; b) Tudo o que é objeto de ensino  ou  c) Instrução cristã. Esse amplo espectro de definição abrange plenamente o objeto de estudo deste artigo, pois faremos um exame cronologicamente ordenado dos mais relevantes princípios, ensinos e declarações feitos pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados - entidade governante das Testemunhas de Jeová - em mais de um século de sua existência. 
     Cremos que tal exame proverá ao leitor a oportunidade ímpar de acompanhar toda a evolução doutrinária desta denominação religiosa. Contudo, o leitor poderá fazer mais que isso - de posse das informações aqui fornecidas, será capaz de visualizar cada instante histórico deste movimento religioso, a partir de seus primórdios, na figura de seu fundador, Charles T. Russell (1852 - 1916) e ao longo das quatro presidências que se seguiram a ele. Na verdade - cremos - a partir desta incursão, será possível testemunhar uma autêntica e gradativa metamorfose nos ensinos da religião, ao ponto de torná-la, na atualidade, quase irreconhecível se comparada àquele pequeno grupo de Estudantes da Bíblia (nome inicial das Testemunhas de Jeová) no início do século 20. Da mesma forma, um adepto atual dificilmente reconheceria sua religião se pudesse olhar para ela há 50 ou 100 anos atrás. De fato, há uma controvérsia histórica quanto a quem a entidade  deve sua origem. De acordo com a publicação Proclamadores (1993), cap. 5, as Testemunhas de Jeová consideram como iniciador de seu movimento o 'pastor' Russell. Todavia, os atuais remanescentes dos antigos Estudantes da Bíblia (http://www.biblestudents.net/abs/history.htm) - os quais preservam, inclusive, o nome original - insistem afirmando que esta visão corresponde a um grosseiro equívoco, pois o sucessor de Russell, o autoproclamado 'juiz' J. F. Rutherford - contrariando o testamento de seu antecessor e mestre - assumiu o controle da organização e introduziu, de forma autoritária, mudanças radicais, desfigurando-a e desviando-a de seu propósito original ao ponto de tornar inevitável uma 'rachadura' no movimento - o cisma de 1917, apenas um prólogo.
     É a ele, Rutherford, e somente a ele que os atuais Estudantes da Bíblia (ou Russelitas) atribuem o surgimento daqueles a quem o público em geral conhece pelo nome Testemunhas de Jeová - título, aliás, criado pelo próprio Rutherford no ano de  1931. Segundo Chandler Sterling - um crítico da época - com este título atingiam-se dois objetivos simultaneamente: primeiro, estabelecia-se uma distinção formal entre grupo de Rutherford e aqueles que não aceitaram submeter-se à sua política administrativa; segundo, os Estudantes da Bíblia passariam, a partir desta mudança, a endereçar a si mesmos todas as passagens ou profecias bíblicas que contivessem a palavra 'testemunho' ou 'testemunhar' (Proclamadores, p. 152) . Conforme a história mostraria, as suspeitas de Sterling não eram infundadas.
      Com o surgimento de diversos grupos dissidentes, a identidade dos genuínos seguidores do 'pastor' Russell, de fato, tornou-se um tanto obscura. Eleger hoje as Testemunhas de Jeová  - ou qualquer dos inúmeros ramos que irradiaram-se a partir daquele começo  - como herdeiros do espólio doutrinário de Russell torna-se meramente uma questão de ponto de vista. Se considerarmos o êxito econômico, sem dúvida a Sociedade Torre de Vigia - entre as diversas entidades surgidas - tem suas razões para reivindicar tal prerrogativa, afinal ela atingiu níveis de prosperidade e difusão junto ao público que superam em muito aqueles alcançados por suas rivais. É dela o maior patrimônio em complexos de edifícios ao redor do mundo, em fazendas e em colossais gráficas. Também ela divulgou mais literatura que qualquer uma de suas concorrentes. Seus dirigentes evocam tais números como evidência do favor divino - um critério, no mínimo, questionável. Se, por outro lado - ao invés do aspecto material -  considerarmos a estrita aderência aos princípios e doutrinas tenazmente defendidos por Russell até sua morte, o panorama adquire outro aspecto. Pudesse ele voltar da sepultura, dificilmente reconheceria na estrutura doutrinária e hierárquica das Testemunhas de Jeová a continuação do pequeno e singelo movimento que ele iniciara durante a efervescente atmosfera religiosa do final do século 19. É nosso desejo que a seqüência de ensinamentos aqui mostrada - repleta de mudanças estruturais - possa proporcionar ao leitor subsídios que o habilitem a fazer uma avaliação imparcial dessa questão.
     Uma fascinante viagem, fecunda em reviravoltas doutrinárias e contrastes, coloca-se diante de nós. Venha conosco e compreenda, afinal, o longo processo que transformou um pequeno grupo de estudantes da Bíblia - reunidos há mais de um século em eclésias simples e independentes  - numa vasta corporação centralizadora, com milhões de adeptos no mundo inteiro. Talvez, ao final da jornada, você leitor considere compreensível o fato de a maior parte desta informação ser mantida - pela organização - tão distante quanto possível dos olhos dos prospectivos membros. De fato, você terá visto muito mais do que qualquer um deles jamais sonhou ver...
     Neste trabalho, cada ponto (doutrina, ensino ou declaração) será sempre acompanhado da respectiva referência, oriunda das próprias publicações das Testemunhas de Jeová (quando possível, será fornecida a fotocópia do documento). Cremos que, sendo provenientes da própria religião, as provas terão considerável força. Quando apropriado, comentários serão introduzidos, com a finalidade de escrutinar a matéria em questão e facilitar a compreensão do leitor. Uma vez formado o cenário social e histórico de cada momento, será mais fácil compreender o por quê desta ou daquela declaração. Os resultados parecem consistentes com a tese de que nenhum grupo religioso é imune às crendices de seu tempo.
Obs.: a maior parte da literatura aqui citada corresponde às edições originais em língua inglesa, de modo que poderá não haver a exata correspondência com as versões em português, especialmente tratando-se de números mais antigos. Ademais, alguns exemplares muito antigos são extremamente raros em língua portuguesa. Além disso, achamos conveniente acrescentar grifos aos trechos mais importantes.


"Devem estes sinais ser interpretados como literais ou simbólicos? E será que eles já se cumpriram? Nós respondemos que eles tiveram um cumprimento literal, e agora estão tendo estão tendo um cumprimento simbólico muito mais momentoso. Em 19 de maio de 1780 [...] um escurecimento fenomenal do sol ocorreu...cobrindo 320.000 milhas quadradas... [na] Nova Inglaterra e Estados Centrais... não deve ser surpresa para nós... que Deus porventura utilize a 'terra da liberdade' para enviar a mensagem destes sinais ao mundo... Ele se satisfaz em enviar, a partir do mesmo lugar, muitas das modernas bênçãos e invenções... bem simbolizadas pela... estátua da 'Liberdade  iluminando o mundo'."
- Estudos das Escrituras IV, 1897, pp. 585,587,588  (em inglês) 
"As palavras de Nosso Senhor tiveram um cumprimento na maravilhosa chuva de meteoros da manhã de 13 de Novembro de 1833... estes sinais literais servem ao seu propósito designado de chamar a atenção para o Tempo do Fim."
- Estudos das Escrituras IV, 1897, pp. 588, 590 (em inglês)

Comentário:
     Vemos aqui uma pequena demonstração da mentalidade, por assim dizer, "apocalíptica" do 'pastor' Russell, buscando, em fenômenos astronômicos, tais como eclipses e chuvas de meteoros, argumentos para situar o cumprimento das profecias bíblicas em seu próprio tempo. Todavia, ele não foi um pioneiro. Tal atitude nada mais era do que um produto da atmosfera religiosa prevalente nos EUA ao final do século 19 - dando origem a diversos movimentos religiosos, entre eles o Adventismo. É  também digno de nota o indisfarçado patriotismo de Russell, claramente evidenciado por seu louvor ufanista à América - 'terra da liberdade' escolhida por Deus - e ao símbolo maior de New York - a estátua da liberdade.


"Assim, reconheço estar endividado com os adventistas e com outras denominações... embora o Adventismo não me tenha ajudado em nenhuma verdade específica, ajudou-me grandemente a desaprender erros, e assim me preparou para a Verdade."
- Zion's Watch Tower (A Sentinela), 15 de julho de 1906, p. 229  [p. 3821 na reimpressão]
"...dentro de trinta anos após o início do Tempo do Fim (1260+30=1290), um trabalho de purificação... começaria dentre o povo santo... Contando de 539 A.D., os 1290 dias simbólicos terminaram em 1829... um movimento religioso... geralmente conhecido como 'Segundos Adventistas' ou 'Milleristas'... começou em 1829... o trabalho de separação do 'movimento de Milller' começou no tempo previsto..."
- Estudos das Escrituras III, 1891, pp. 83,84 e 88  (em inglês) 
"Esta mensagem concernente ao Reino do [arcanjo] Miguel, abrindo-se de 1829 em diante, é simbolicamente representada no livro de 'Revelação'..."
- Estudos das Escrituras III, 1891, p. 89  (em inglês)
"...e assim houve  expectativa e movimentação correspondentes da parte de muitos (posteriormente chamados Adventistas) liderados principalmente por um irmão Batista chamado William Miller... Isto culminou no ano de 1844 A.D., exatamente trinta antes de 1874, quando Cristo..., de fato, chegou..."
- Estudos das Escrituras II, 1888, pp. 240,241 (em inglês)
"A aplicação que o Sr. Miller fez dos três tempos e meio foi praticamente a mesma que nós fizemos, mas ele cometeu o erro de não começar os períodos de 1290 e 1335 [dias] no mesmo ponto... O desapontamento foi predito para o primeiro movimento..., mas o segundo não foi um desapontamento..., pois o cumprimento veio exatamente... em Outubro de 1874."
- Estudos das Escrituras III, 1891, pp. 85-93 (em inglês) 
"... a data exata para o início do 'Tempo do Fim'... mostra ser a invasão de Napoleão ao Egito... Ele navegou em maio de 1798... e chegou à França em 9 de outubro de 1799."
- Estudos das Escrituras III, 1891, p. 44 (em inglês) 
"Napoleão iniciou sua campanha egípcia em 1798,... e, sendo completada em 1799, marca, de acordo com as próprias palavras do profeta, o começo do 'Tempo do Fim'."
- A Harpa de Deus, 1921, pp. 228-229 (em inglês)
 "Ao final de 1260 anos, o poder da verdade e de suas testemunhas foi manifestado (1799 A.D.)."
- Estudos das Escrituras II, 1888, p. 256 (em inglês) 
"O 'Tempo do Fim', um período de cento e quinze (115) anos, de 1799 A.D. a 1914 A.D., é particularmente assinalado nas Escrituras... ninguém poderia entender a profecia antes de 1799... o início do 'Tempo do Fim', dentro de cujos limites todo vestígio deste sistema desaparecerá..." 
- Estudos das Escrituras III, 1891, pp. 23, 24 e 48 (em inglês) 
"O domínio papal... foi quebrado no início do 'Tempo do Fim' - 1799"
- Estudos das Escrituras IV, 1897, p. 37 (em inglês) 
"O 'Tempo do Fim' abrange um período que vai de 1799 até o tempo de completa derrocada do império de Satanás e o estabelecimento do Reino do Messias."
- Criação, 1927, p. 37 (em inglês) 
"Mil duzentos e sessenta anos a partir de 539 A.D. levam-nos a 1799, o que é outra prova de que 1799 marca o início do 'Tempo do Fim'".
- Criação, 1927, p. 294 (em inglês) 
"Os fatos indisputáveis, por conseguinte, mostram que o 'tempo do fim' começou em 1799..."
- Watchtower (A Sentinela) de 1/3/1922
"Em simbologia bíblica, um tempo significa um ano de doze meses com trinta dias cada, ou 360 dias. Cada dia é considerado como um ano... Aqui são mencionados, então, três tempos e meio de 360 dias proféticos cada, ou um total de 1260 dias proféticos, igual a 1260 anos.... de 539 A.D. ... até 1799 - outra prova de que 1799 marca o início do 'tempo do fim'."
-  A Harpa de Deus, 1921, pp. 229,230 (em inglês)
"Neste capítulo, nós apresentamos a evidência bíblica que indica que seis mil anos a partir da criação de Adão completaram-se em 1874; e que assim, desde 1872, nós entramos cronologicamente no sétimo [período] do Milênio..."
- Estudos das Escrituras II, 1913, editorial 33 (em inglês) 
"Nosso Senhor, o Rei designado, está agora presente, desde Outubro de 1874..."
- Estudos das Escrituras IV, 1913, editorial 621 (em inglês) 
"É com base em tais e tantas correspondências - de acordo com as mais sólidas leis conhecidas da ciência - que nós afirmamos que, escrituralmente, cientificamente , historicamente , a cronologia presente está correta além de qualquer dúvida. Sua confiabilidade foi abundantemente confirmada pelas datas e eventos de 1874... é uma base segura sobre a qual os filhos consagrados de Deus podem se empenhar na busca pelas coisas que estão por vir"
Watchtower (A Sentinela) de 15/6/1922, p. 187
"A profecia bíblica mostra que o Senhor apareceria pela segunda vez no ano de 1874. A profecia cumprida mostra, além de dúvida, que ele realmente apareceu em 1874... estes fatos são indisputáveis."
- Watchtower (A Sentinela) de 1/11/1922, p.333
"Certamente não há o menor espaço para dúvida na mente de um filho verdadeiramente consagrado de Deus que o Senhor Jesus está presente e tem estado desde 1874."
 Watchtower (A Sentinela) de 1/11/1924, p. 5
"... esta medida [numa passagem da pirâmide] é de 3416 polegadas, simbolizando 3416 anos... Este cálculo mostra o ano de 1874 A.D. como marcando o início do período de tribulação..."
- Estudos das Escrituras III, 1897, editorial 342 (em inglês) 
“...refere-se à Grande Pirâmide, cujas medidas confirmam o ensino bíblico de que 1878 marcou o começo da colheita...”
- A Sentinela de 1/10/1917, p. 6149 (em inglês)  

 Comentário:
     As matérias acima descrevem bem aquele que foi - por décadas a fio - o pilar fundamental da obra do 'pastor' Russell - o cálculo escatológico dos Adventistas, o qual apontava para o início 'tempo do fim'  no período 1798/1799 e a 'segunda vinda' de Cristo em 1874. A piramidologia - comum entre os adventistas daquela época - serviu, até 1928, como base para confirmar a correção de tais cálculos. Perceba o leitor a firmeza e convicção com que este ensino foi reiteradamente enfatizado pela Sociedade Torre de Vigia, mesmo após a morte de Russell , em 1916. Termos como "indisputável", "seguro", "exato", "além de qualquer dúvida" ou "provas", conforme se pode ver, permeiam os artigos.  Hoje em dia, nenhuma Testemunha de Jeová vê qualquer significado nessas datas tão tenazmente defendidas por Russell. Na verdade, é notável a convicção com que elas defendem hoje um cálculo completamente diferente daquele apresentado como uma "base segura" pelo fundador de sua religião. Nem 1799 correspondeu ao início do 'tempo do fim' ; nem Cristo retornou em 1874; nem a "colheita" realizou-se em 1878; nem o 'armagedom' ocorreu em 1914. Pela escatologia atual, tanto o 'tempo do fim' quanto a 'segunda vinda' de Cristo foram convenientemente transferidos para 1914 e a "colheita" para 1918. Quanto ao 'armagedom', mais de cinco datas diferentes já foram propostas - 1914, 1918, 1925, 1941, 1975 e assim por diante. Diante do contraste aqui encontrado, é natural perguntar: quando, exatamente, esteve a Sociedade Torre de Vigia em erro? Ao defender as "verdades passadas", décadas atrás, ou quando defende as "verdades presentes"? Ou em ambas?

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